domingo, 14 de outubro de 2012

#4 Recomenda-se...

E hoje vamos aderir à onda chic que está a invadir Lisboa... as bicicletas. No dia-a-dia já são muitas as pessoas que se deslocam por Lisboa de bicicleta, seja para ir para a faculdade, para o trabalho, para passear ou para fazer um pouco de exercício físico. Eu gostava de experimentar mas as sete colinas assustam-me. Não podia Lisboa ser uma cidade mais plana? Facilitava-me tanto a vidinha. Mas no fundo, gosto tanto dela assim que não trocava! O que nos trouxe aqui não é somente para quem já aderiu à moda mas para todos, Lisboa conta agora com o Vélocité Café. Fica na Av. Duque d'Ávila e tem direito a esplanada. O conceito é um mix entre café e oficina de bicicletas. A decoração do espaço está muito, muito gira. Acho que só falta mesmo um estacionamento de bicicletas porque a aderência vai ser muita! Parabéns aos que apostaram neste novo e muitooooo agradável espaço. Deixo-vos umas fotos para abrir o apetite e também o site e o facebook para poderem saber tudo!









Histórico!

Confesso que não estava tão entusiasmada como o meu namorado e outros amigos mas confesso que quando a altitude bateu nos 37.000 km a coisa mudou de figura. Então mas ele nunca mais salta? Mas o que se passa? Daqui a nada já está no 38.000 km! Será que está com medo? Ok, calma, está só a preparar tudo! Mas já vai nos 39.000 km, então? Até que a porta abriu e lá foi o lindo Felix às cambalhotas por aí abaixo. Aquela mãe deve ter tido o coração tão apertadinho nesta descida, mas pelo currículo do filho já deve estar um pouco habituada. Enfim, não era coisa que eu fizesse, nem por muito dinheiro. Mas foi bom de ver e é bom ter conhecimento real da evolução da tecnologia. Parabéns a toda a equipa envolvida e ao Felix, claro!




quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Se fossem todos à ...

Meu caro, depois de ler as suas tristes declarações fui informar-me e conclui que a Renault lançou recentemente uma nova versão do seu modelo Clio. Esta nova versão do Clio tem uma caixa de cinco velocidades, ar condicionado automático, car
tão mãos livres (que permite destrancar/trancar/ligar o motor ao aproximar-se ou ao afastar-se), bagageira de 300 dm3 e obteve 5 estrelas nos testes de segurança passiva efectuados pelo organismo independente EuroNCAP. Existe a versão a gasolina e a versão a diesel. Os preços das várias gamas variam entre 13.800 e 18.600 euros. Admitindo que a sua pessoa, meu caro, merece apenas sentar-se na gama mais elevada do Clio o total a pagar pelo veículo seria 18.600 euros. Como não só você, meu caro, precisa de um veículo para se deslocar vamos adicionar mais três de gama igual, o que perfaz um total de 74.400 euros. Ora bem, meu caro, o grupo parlamentar do seu partido adquiriu quatro carros para renovar a frota (um Audi A5 e três Volkswagen Passat) cujo valor total rondará os 210.000 euros com o pequeno pormenor que o dinheiro é proveniente do Orçamento da Assembleia da República. Meu caro, consegue explicar-me as diferenças entre os veículos adquiridos e o Clio que justificam a diferença de 135.600 euros? Olhe, meu caro, não perca tempo a pensar nisto porque avanço-lhe já que a diferença é injustificável perante a situação actual do nosso país e perante o esforço que o Governo pede a nós, comuns Portugueses (e que o seu partido, se estivesse no poder, iria certamente também pedir por imposição da Troika). Poupe esse tempo para pensar em quantas famílias portuguesas gostavam de ter poder de compra para comprar um Clio. Ou então, pense naquelas muitas famílias portuguesas que nem pensam em ter um carro porque o dinheiro mal chega para pagar as compras e colocar comida na mesa. Assegure-lhe, meu caro, que muitos de nós, comuns e racionais Portugueses (senão todos) gostariam que o líder parlamentar do PS andasse de Clio e que todos os políticos parassem de usar o dinheiro das nossas contribuições desta forma e de outras piores ainda. E por hoje é tudo, meu caro!


Artigos:

Um visão de Portugal

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa.

Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e 
Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê: 


- É sempre assim, esta auto-estrada?


- Assim, como? 


- Deserta, magnífica, sem trânsito? 


- É, é sempre assim. 


- Todos os dias? 


- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente. 


- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram? 


- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto. 


- E têm mais auto-estradas destas? 


- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me. 


- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões? 


- Porque assim não pagam portagem. 


- E porque são quase todos espanhóis? 


- Vêm trazer-nos comida. 


- Mas vocês não têm agricultura? 


- Não: a Europa paga-nos para não ter. 
E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável. 
- Mas para os espanhóis é? 
- Pelos vistos... 

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga: 
- Mas porque não investem antes no comboio? 
- Investimos, mas não resultou. 
- Não resultou, como? 
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou. 
- Mas porquê? 
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos. 
- E gastaram nisso uma fortuna? 
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos... 
- Estás a brincar comigo! 
- Não, estou a falar a sério! 
- E o que fizeram a esses incompetentes? 
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa.. . e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro. 
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo? 
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km. 

Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não. 
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto? 
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações. 
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa? 
- Isso mesmo. 
- E como entra em Lisboa? 
- Por uma nova ponte que vão fazer. 
- Uma ponte ferroviária? 
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa. 
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros! 
- Pois é. 
- E, então? 
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim. 

Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la. 
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta... 
- Não, não vai ter. 
- Não vai? Então, vai ser uma ruína! 
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína, aliás, já admitida pelo Governo porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar. 
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras? 
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa! 
- E vocês não despedem o Governo? 
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo... 
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro? 
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade. 
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia? 
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV. 
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter? 
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade. 

Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás: 
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê? 
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa. 
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo? 
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado. 
- Não me pareceu nada... 
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP. 
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível? 
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido. 
- E tu acreditas nisso? 
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo? 
- Um lago enorme! Extraordinário! 
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa. 
- Ena! Deve produzir energia para meio país! 
- Praticamente zero. 
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber! 
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha. 
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso? 
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais. - Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada? 
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor. 

Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente: 
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos? 
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez. 

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou: 
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!...


Miguel Sousa Tavares